O Bom Pastor do vale

(Reflexão)

O Bom Pastor que cuida de tudo, e digo sem temor de errar, nada me deixou faltar, “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte” (Sl 23.4); ainda que eu toque no profundo do vale; ainda que me corram calafrios do frio do vale, tendo por companhia os menos desejáveis. É assim que ele faz, dentre os poucos que ele envia para “segurar a barra” (claro, sem merecimento algum). Não posso passar incólume ao modo de agir dele, e à sua forma de tratar. Não é por todo o tempo que recebo o bem, de muito que já recebi. Eu só receberia o “bem de Deus, e não receberia o mal?” (Jó 2.10). Também o mal! O mal que vai me ensinar!, que me dará nova roupagem, me acrescentando sabedoria. No vale, tudo pode acontecer, onde nem sempre surgirão coisas novas.

Quantos têm a falsa ideia de que o Bom Pastor só dá coisas boas! É que ele permite as ruins. Ambas fazem parte de seus cuidados. Todo o seu amor e verdade estão acompanhados de sofrimento. Possa haver quem pense que a vida dos escolhidos seja um esplendor celeste sem fim, livre de infortúnios! Ledo engano! Para quem sonhou depender, sem se intrometer nos desígnios eternos, vai, sim, ter suas amargas doses. Mas também penso que, se os grãos são moídos, há gotejamento de mirra! A cada moedura, exalações perfumadas! Poucos entendem da necessidade das aflições, e as aceitam! E é assim que o Bom Pastor nos guia, para fazer-nos assentar à mesa do seu banquete.

Isac Rodrigues