31 de agosto de 2015
Salvar-se-ia
(Reflexão)
Num livro escolar deparei-me com um poema de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal. Diz o poema: “Perdi-me dentro de mim / Porque eu era labirinto / E hoje, quando me sinto, / É com saudades de mim, // Passei pela minha vida / Um astro doido a sonhar. / Na ânsia de ultrapassar, / Nem dei pela minha vida … // Para mim é sempre ontem, / Não tenho amanhã nem hoje: / O tempo que aos outros foge / Cai sobre mim feito ontem. // Regresso dentro de mim / Mas nada me fala, nada! / Tenho a alma amortalhada / Sequinha, dentro de mim. // Não perdi a minha alma, / Fiquei com ela, perdida, / Assim eu choro, da vida, / A morte da minha alma. // As minhas grandes saudades / São do que nunca enlacei. / Ai, como eu tenho saudades / Dos sonhos que não sonhei!”.
É o grito de uma angústia existencial! Sondou o mais profundo de seu ser e descobriu dramas sem solução, tornando pensamentos e ações sem controle. Tentando abafar seu grito, suicidou-se. Um só pouquinho de meditação no que diz: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” (Sl 42.11), salvar-se-ia!
Isac Rodrigues